Pieces * Errado do certo
Prometi que não ia escrever, que ia acabar de ler o livro, lavar os dentes e deitar-me. Não consigo. O que li fez-me pensar. Pensar faz-me querer escrever. Nem que seja uma simples frase. A frase transforma-se em texto e cá estás tu, outra vez, a ler-me. Sem tu, nem eu querermos. Lá vou eu abrir as portas e as janelas todas. Paciência. Se não o fizer rebento ou passo horas na cama a criar textos imaginários.
O livro que li falava de muitos temas, só um fez o clique. Descobriu uma ligação comigo. Falava de um amor que nunca chegou a ser amor, por aparecer sempre nos momentos errados. Fez sempre parte da vida deles e, inocentemente ou não, era ignorado e desprezado por ambos. Em determinadas alturas fazia faísca, fazendo todo o sentido, fazendo-os sonhar. Com uma vida a dois, quase perfeita. Tão perto da perfeição que os fazia regressar ao planeta Terra e perceber o porquê de esse amor não existir. Por tudo o que estava envolvido, por tudo o que os rodeava, por tudo o que teria de ser deixado para trás, pelo passado e pelo presente. Falava do que é querer esconder, fazer escolhas para o evitar e iludir o que cá dentro é verdade. Falava do sentimento que nos percorre quando percebemos que é tarde de mais. Que não há nada que se possa fazer. Que as suas vidas nunca passarão a ser uma só, por culpa deles. Por culpa do medo que os assombrou nos momentos errados. Momentos esses que se tornariam os certos com apenas uma palavra, uma confissão de uma frase apenas.
No livro não ficam juntos. Ficam com a certeza de que poderiam ter ficado se tivessem enfrentado o mundo e não arranjassem desculpas para a sua fraqueza. Afinal o amor é isso mesmo, uma fraqueza, não uma desculpa. Todos somos mais fracos e mais frágeis quando amamos. Só alguns têm força, no meio dessa fraqueza toda, para lutar e continuar frágeis. Muitos preferem ser fortes e viver no arrependimento de nunca ter sido fracos e frágeis.
Não quero ser assim.