Pieces * Dor proibida


   Todos temos assuntos que são proibidos. Porque dói reviver um estado passado, quer por querermos que ele seja presente e futuro, quer por não querermos que ele faça parte da nossa história. De qualquer das formas, ele não deixa de doer. Falar ajuda. Não faz com que a dor desapareça, mas ajuda a que nos habituemos a ela. Quando nos magoam, é para o resto da vida. Pouco ou nada podem fazer para compensar o tempo perdido, a escolha errada das palavras ou a mentira que encobre a verdade escondida. As coisas nunca mais voltam a ser o que eram depois de nos espetarem a primeira facada nas costas, no coração ou noutro lugar do nosso corpo. A faca sai, a ferida fica. Vai fechando, mas deixa marca. Uma marca que permanece connosco. E mesmo quando nos habituamos a sofrer, aquela marca lembra-nos de mais um fatídico acontecimento da nossa vida.
   Em mim, existem quatro assuntos que ainda doem. Dói falar, dói esquecer. Dói sempre. São assunto do passado, do presente e do meu possível futuro. Irão condicionar-me. Levar-me a ficar com o pé atrás. Dos quatro, dois deles eliminava por completo. Em relação aos outros dois, desejo, mesmo muito,  que se tornem presente e futuro. De três deles não tive como escapar, como fugir, como impedir que acontecessem. Fui surpreendida. Eram incalculáveis. Do último, a culpa foi minha. Foi, porque já deixou de ser, apesar de não ter deixado de me assombrar.
   Vivo assim, com quatro feridas em fase de cicatrização diferentes. Levaram-me a não acreditar no para sempre, nas segundas oportunidades e nas desculpas sinceras. Nenhum deles existe. Há quem não te dê segundas oportunidades. Quem exija de ti a perfeição. Para quem as desculpas são um simples gesto de limpeza de consciência. Palavra carregada de sentimentos e vazia de significado algum. E, na vida, a única coisa que é para sempre é o adeus. Quando não é um até já.


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