Pieces * Naive innocence
Há muito que as palavras bonitas não me chegam. Nem do primeiro nível passam. É como se as ouvisse, mas não as conseguisse descodificar. Há algo no canal de comunicação que deixou de funcionar. Devem ter cortado algum dos fios principais. Quem foi o responsável? A dor.
A inocência foi-me roubada quando o que parecia ser o fim, não passou de um meio. Quando me levaram a acreditar em mentiras e fizeram da minha vida uma mentira. Agora nem as minhas palavras ou as minhas explicações conseguem salvar o que quer que isto seja. Eu vivo e respiro acções e actos. Alimento-me de verdades comprovadas e sentimentos explícitos. Os jogos e os medos caem-me mal a qualquer hora do dia.
Custa-me mesmo entender onde, e por que é que ainda, persiste a dúvida. Já não faz sentido. A dúvida é tanta que não deixa espaço para mais nada. Um nada que é nada. Não um nada dos meus. E, enquanto deitada na cama escrevo este texto nas notas do telemóvel, percebo que nunca foi motivo de felicidade. Eu estou bem. Mesmo bem. Sinto-me distante e fria, mas capaz. Capaz de tudo. Agora tenho medo de não conseguir viver com esta ânsia de querer. Querer e poder. De qualquer das formas, sempre posso querer não querer. Isso é bonito de poder.