Pieces * Mermaid

Há alguns anos atrás sentia-me encerrada dentro de uma concha. Achava que tinha de controlar tudo e mais alguma coisa e só conseguiria fazê-lo ali. Quando me ausentava desse meu espaço tudo me parecia estranho. Era como se tivesse medo do mundo exterior e de todas as pessoas que o habitavam. Tinha medo que estragassem tudo o que tinha construído e tudo o que amava.
No tempo presente, mostrar quem eu sou passou a ser prioritário. Vivi rodeada de opiniões erradas, de pessoas que não me conheciam. De certa forma, tudo o que estava relacionado comigo não passava de uma mentira. Baseavam-se apenas no que viam. Achavam que eu era fútil, mimada e antipática, para não dizer mais. E não era mais do que as valvas da minha concha. Por outras palavras, a minha muralha. Aquela que seleccionava o que saia e o que entrava no meu castelo. Essa muralha ainda existe. É mais pequena e não tão selectiva, mas está lá.
A maior parte mais parece retirado de um sonho. Só o facto de agora ter um blog onde me exponho diariamente, prova que esta fase já acabou há muito tempo. Não vou dizer que sou a pessoa mais extrovertida do planeta, mas pelo menos já consigo socializar, dançar em público e formar uma frase sem ter de pensar nela durante 15 minutos. Sim, eu fazia isso. 15 minutos de introspecção em busca da frase perfeita. Lógico que, passados esses 15 minutos, o tema já era outro e dizê-la em voz alta seria ridículo. Por isso, eu preferia ficar calada o que era visto como arrogância. E não passava de vergonha e incerteza.
Mesmo assim existem alturas que me volto a enfiar dentro da concha e o que eu mais desejo é que ninguém dê por mim. Tanto por coisas boas como por coisas más. A minha mãe chama-lhe o meu mundo. Eu não lhe chamaria outra coisa. Às vezes preciso disso. Só eu e o silêncio. Não digo paz, porque eu nunca estou em paz comigo mesma. O meu coração e a minha razão passam a vida em discussões sem fim. Já nem me consigo lembrar quando começaram. Mas não quero falar, muito menos ouvir alguém. É como se tivesse a certeza de que não me iriam entender. Não entenderiam o porquê de eu estar feliz ou de estar de rastos. Nem eu.