Pieces * Bird



   Corro sem parar, escondo-me, escondo-te, páro, descanso para respirar fundo, quando olho à minha volta, não me mexi um centímetro. Está tudo no seu devido e perfeito lugar, onde estava antes de eu começar a fugir. Fugir? Será fugir? Chamasse a isto fugir? Ando a fugir? De quem? De ti? De mim? De nós? Porquê? Fujo para quê? Se não tenho para onde ir. Se não existe lugar nenhum no planeta onde isto seja fácil. Não faz diferença o lugar. Onde quer que eu esteja, vou estar assim. Vai ser sempre assim. Eu sei que me tenho repetido imenso e que os meus textos parecem falar sempre do mesmo. De certa forma, e sem meias medidas, eu sinto-me encurralada e não sei o que fazer para me libertar.
   É como se me tivessem roubado o comando que controla a minha vida e por mais que eu implore, de joelhos, não mo devolvem. Não percebem que eu só quero voltar a ser um pássaro livre, que nem sempre escolhe voar pelos céus certos, mas que tem o poder de escolher o rumo que quer tomar. Fecharam-me numa gaiola. Decidem quando posso comer, o que posso comer e deixam-me passar sede. É cruel!
   A vida fechou-me à chave e deitou-a fora. Na verdade, acho que fui eu que a escondi e não me lembro onde. Acho que estou trancada porque não me quero lembrar onde a pus. Talvez por medo de já não saber com se voa. Talvez com medo do que está para além da janela pela qual vejo o mundo viver. Tenho medo do tempo, da maneira como ele escolhe passar muito rápido ou, pura e simplesmente, parar. Tenho medo de errar outra vez, não em coisas distintas, mas exactamente nas mesmas coisas. Tenho medo de continuar sem ti e de nunca deixar de ter medo de olhar para trás com medo de não te ver. Quer parado à minha espera, quer de costas voltadas, seguindo o teu caminho.

Quero ser um pássaro sem medo de viver, sem medo de voar, sem medo de sobrevoar, sem qualquer tipo de medo. Um pássaro singelo, inocente e livre.



If you're a bird
I'm a bird

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