Pieces * Vai e vem
Enquanto meio mundo tenta perceber o lado mau das pessoas, eu tento encontrar o bom. Desenho perfis, sigo pistas e acredito que ele existe em cada um de vocês. Nem sempre aparece. Nem sempre parece verdadeiro. Alguns deixam-me com o pé atrás. É complicado decifrar se é tudo fachada. Se a bondade é real. Se faz parte do seu todo. Como ingénua que sou, gosto de acreditar que sim. Que existe uma réstia de benevolência. Que os maus só existem na televisão. Que ninguém se diverte a brincar com os sentimentos e medos dos outros. Só me esqueço que tudo tem dois lados. Que tal como existe o certo e o errado e o preto e o branco, existe o bom e o mau. E ambos têm de ter o seu lugar no mundo. É essa a parte que odeio. Que as coincidências sejam partidas do destino. Que a vida seja feita de 'ses'. Que não dê para voltar atrás no tempo. E que tudo tenha de ter pelo menos duas versões.
Uma verdade absoluta seria o suficiente para resolver muitos dos meus problemas. Um único drama. Um único caminho. Mas não. As pessoas têm de nos fazer duvidar sempre. Não nos deixam viver na certeza. Atormentam-nos com os nossos segredos. Alimentam-se da nossa angústia. Não consigo entender. No meu caso andam a roubar-me a inspiração e a vontade. Acho que perceberam que isso seria pior de que me destruírem a alma. A cada dia que passa, há mais um pedaço de mim que se transforma. Transforma-se em mais um bloco de gelo.
Neste momento aguentava com tudo à costas na boa. Depois de tanta coisa, de tanto medo, de tanto desejo, o que sobrou foi a tal réstia de benevolência. Um mistura de pena, carinho e esperança. Não em quantidades idênticas. Não por essa ordem. E quanto mais falo do assunto, mais ridícula me sinto, mais absurdo me parece. Vai e vem. Sem avisar. Sem se despedir. Não fica, nem vai embora. Onde está o lado bom disto?