Pieces * Ponto e vírgula
Esperar é um verbo que significa tudo e nada. Esperar pode ter motivo. Pode ter esperança. Pode ter um fim. Como pode não ter nada. Pode não dar em nada. Pode ser tempo perdido. Como sabemos? Esperando. Indo esperando. Fingindo que esperamos. Esperar, fingindo que não o fazemos. É um estado ingrato. No mínimo. Não conseguimos perceber quando atingimos o nosso limite, quando já chega. Mas como é que podemos estar cansados de uma situação que não é nada e que pode ser tudo? Quando devemos fechar a porta e partir?
Eu sei que se diz que "o que vale a pena ter, vale a pena esperar", mas e se a espera for em vão? Nunca vamos ter nada em concreto. Como vamos lidar com isso? Teremos de nos sujeitar a tudo? Ignorar certas coisas e imaginar outras? Ficar sentados de braços cruzados ou ir à luta, sabendo que poderemos perder? Não será como tudo então? Entrar numa luta é saber que temos dois finais possíveis, perder ou ganhar. Ser inteligente é perceber qual das duas hipóteses tem mais probabilidade de acontecer. Mas sabemos isso como? Simplesmente não existe maneira de saber. Podemos tentar adivinhar, rever o filme, procurar segundos sentidos, palavras nas entrelinhas, gestos. A má notícia é que nunca saberemos se estamos a ver coisas onde elas não existem. No fundo, há pouco que se possa fazer. É uma luta desigual. Injusta e cruel.
Eu cá vou fingindo. Fingindo que o faço e que não o faço. Depende dos dias. Sinto-me ridícula na maior parte deles. E nesta luta cega sem desfecho previsto, espero que alguém ponha o ponto final por mim. A minha tecla não funciona. Só consigo pôr virgulas e atrasar o fim da frase.