Pieces * Vazio abandonado
O poder que as pessoas têm de entrar e sair da nossa vida é o mais poderoso de todos os males, a pior vantagem, o mais cruel. É como se a porta da nossa vida estivesse avariada, qualquer um pode entrar e quem quiser pode ser um qualquer e sair. Uns não percebem a importância que têm na nossa simples e vulgar rotina. Outros não percebem que não são bem-vindos, que não fazem falta. Nem nós.
Uns abandonam-nos em casa, acariciam-nos até adormecermos e depois desaparecem. Embalam-nos num sonho que vira pesadelo assim que acordamos. Não deixam rasto, nota de despedida ou instruções para o passo seguinte. Esquecer e fechar a porta? Correr atrás? Esperar que voltem pela mesma porta que saíram? Outros entram sem pedir licença, alteram tudo e fazem-nos duvidar do que sempre foi verdade assumida. Não batem à porta nem limpam os pés antes de entrar. Mudam o mundo que sempre conhecemos, quer os que saem quer os que entram.
Sempre que o nosso mundo perde ou ganha alguém, ele muda. Só nos resta adaptar-nos, escrever o livro de instruções e tentar adivinhar como viver com o que nos resta. Um resto que nem sempre nos preenche. Que nunca nos preencherá. Porque um faz toda a diferença, porque mesmo sendo o nosso mundo, na maior parte do tempo é o mundo dele. Um mundo, para sempre, cheio da sua ausência. Ou, talvez, vazio. Como ele.