Pieces * Broken mirror

   Quem conhece a minha história, conhece a profundidade dos meus olhos. Percebe tudo o que transmitem, mesmo que esteja codificado, protegido com raios laser e com uma palavra-passe de alta segurança. São o espelho que nem todos conseguem aceder, muito menos compreender o que reflecte. Por vezes consigo controlar a mensagem, na maioria das vezes consigo omitir certas sombras e imperfeições, mas se alguém dedicar um pedaço do seu precioso tempo a olhar-me nos olhos, percebe, sem dificuldade nenhuma, o que escondem e o que se encontra por trás da muralha que aprendi a construir quando ainda nem tinha 5 anos.
   Aprendi que há alturas em que tens de ceder o palco aos outros, que nem sempre podes ser a personagem principal. Que tens de deixar os outros brilhar, que tens de resolver as coisas sozinha, porque alguém precisa mais desse espelho. Foi assim que conheci o reflexo do ser forte. Desde então o ser forte tem sido o meu reflexo. Mesmo sufocada, prestes a afogar-me, o meu reflexo mostra uma atleta que domina todos os estilos de natação. Mesmo que o meu coração esteja despedaçado, o que as pessoas vêm é um coração inteiro dentro de uma caixa de cristal, muito perto da perfeição. Mesmo quando a minha alma chora, os meus lábios esboçam um sorriso. Eu sabia que iria chegar o dia em que o muro ia desabar, pois nenhum muro se aguenta de pé para sempre.
   Dito e feito. O muro, a muralha, a barreira, caiu. Nenhum tijolo ficou em pé. Os meus olhos são o acesso directo para a minha alma. Já tenho os tijolos e o cimento prontos para construir um novo muro, mas decidi não o fazer. De certa forma, eu travava as minhas lutas na mesma, não chorava por fora, mas desabava por dentro. Decidi juntar este egoísmo à minha actual lista de egoísmos e não deixar que me roubem mais o meu palco. Eu nunca fui muito boa a partilhar certas coisas.


Living is easy with your eyes closed

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