Pieces * O que ainda nos resta


Não sei porque continuamos a viver cheios de rancor e de mágoa. Com o peso do "se" e do "talvez". Com a falta de tentativas e oportunidades. Sem se quer tentarmos resolver as situações e os arrependimentos. Perdemos o que mais amamos e perdemos tempo a amar o que nada mais é do que o errado. Deixamos-nos vencer pelo orgulho. Já não somos fortes. Já não temos coragem de lutar pelo que realmente queremos, por quem realmente queremos. Deixamos que os males entendidos comandem as amizades. Que o medo destrua o amor. E que o egoísmo esmague a humanidade. É cada um por si. Numa luta constante contra nós mesmos. Achamos que estamos sozinhos nisto, mas nem por isso olhamos para quem continua ao nosso lado, mesmo desvalorizado e esquecido. Sentimo-nos mal amados, mas não deixamos que ninguém nos ame. Continuamos a viver, sim, continuamos por aqui, sim, mas mais parece que estamos em contagem decrescente até ao final. Não aproveitamos a luz do dia e o mistério da noite. Não damos uso a todos os segundos do relógio. Já ninguém acredita que isto pode melhorar. Já não existem optimistas, só falsos realistas. Já ninguém pega no carro e vai em descoberta do desconhecido, porque a gasolina está cara. Já ninguém ama o que faz, porque não faz o que ama, nem pode. Estamos a perder a nossa essência. O que nos tornava diferentes dos restantes animais. Já não dominamos o mundo. Ele deixa-nos achar que sim. Deixa-nos cá estar, respirar o seu oxigénio e em troca entregamos-lhe o que ainda nos resta, a nossa alma.




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