Pieces * Despe-te!


Chego a casa e dispo-me de merdas. Pouso a mala. Descalço as botas. Tiro o relógio, os brincos e os mil e um anéis. Desaperto o soutien. Limpo os restos do batom. Lavo a cara. Apanho o cabelo. Só me deixo a mim. Sem tretas. Desleixada. Natural. Às vezes deixo-me ficar assim. Nua de preconceitos. Nua de ideias preconcebidas. Nua de medos. Nua de luxúria. Tem faltado isso. Tem-nos faltado isso. Falta-nos despir-nos mais vezes de tudo o que nos torna diferentes dos outros. Talvez assim consigamos perceber que somos todos iguais. Independentemente da nossa conta bancária, das quatro rodas que conduzimos ou do emprego que temos. É isso que agora nos representa. O que temos e não o que somos. Independentemente da nossa religião, cor da pele ou orientação sexual. É isso que nos discrimina. As nossas características e não a nossa personalidade. Independentemente da nossa opinião sobre as coisas. É isso que nos julga. As nossas escolhas e não as nossas vontades. Dispam-se disso tudo. Dispam-se de tudo o pensam saber. Dispam-se de julgamentos. Dispam-se de tudo o que acham que vos torna melhores. Porque só quando estamos nus de tudo é que podemos realmente competir.


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