Pieces * Let go

   Sempre que se parte algo, temos a tendência de o substituir. Substituir por outro quase igual. Igual na diferença, semelhança entre ambos. Diferença que sobressai cada vez que os comparámos. Sem querer, sem saber, sem poder. E quando o que parte é insubstituível? Quando se desfaz em mil pedaços? Impossíveis de voltar a juntar. Impossíveis de colar. Na vida algumas coisas passam a vida a partir. Partem daqui para longe. Partem aqui e para sempre. Nunca voltam, pois se voltassem, continuavam a ter o seu lugar na prateleira. Quer por exclusão, quer por indecisão. Mesmo que tentássemos ocupá-lo com outro, seria um lugar desconfortável de preencher. Demasiado grande. Demasiado pequeno. Demasiado importante. Demasiado de mais.
   O vazio torna-se solidão. O que tens, não é o que precisas. Perdes, amas. Amas, perdes. Desistes por quereres tanto. Lutas por não saberes o prémio que te espera. Tentas corrigir tudo. Resolver o que está resolvido. Começar no fim. Pôr fim ao início. Como se fizesse sentido começar uma frase com um ponto final. Como se fizesse sentido começar pelo final feliz. Como se fizesse sentido deixar que alguém especial saía do nosso mundo por capricho. Em certas alturas parece que sim. Existem alturas chave em que as nossas prioridades mudam. Por instantes. Segue-se o arrependimento, a saudade e o desejo de voltar atrás. 
   Mas como pode alguém contradizer-se numa só frase? Um frase do tipo: eu gosto de ti, mas... Só gostar não chega para muita coisa, mas se não for suficiente para derrotar um mas, nunca será suficiente para nada. Falo por experiência. Não se deixem assombrar pelos mas ou pelos talvez. Às vezes tem de ser para poder deixar de ser.

loved