Pieces * Verbo acreditar
A vida e as experiências ao longo da mesma tornam-te quem tu és, fazem-te acreditar em certas coisas e questionar outras. O mesmo acontece comigo. Acredito no amor, na amizade e na felicidade. Porque já vivi e, continuo a viver, essas três coisas. Há quem duvide que elas existem. Para mim são inquestionáveis.
Os meus pais amam-se mesmo muito. Vejo isso na maneira como olham um para o outro, como dois adolescentes apaixonados. Estão juntos há quase 30 anos. Riem-se que nem dois tolinhos e sabem exactamente o que o outro está a pensar mesmo antes de algum deles abrir a boca. Sabem bem como aguentar as pancas um do outro e como lidar, na perfeição, tanto comigo como com a minha irmã. Já senti tudo isto. Claro que sei que o amor nem sempre dura 30 anos, muito menos eternamente, mas eles fazem-me acreditar que vou partilhar essa sorte. Não acredito em sorte nem no destino. Mas acredito que vou fazer parte de uma história semelhante e isso não vai ser sorte, vai ser uma sorte.
Quanto à amizade. Aturo duas malucas desde que me lembro de existir. Uma quase que nasceu comigo. A outra cresce comigo desde os 6 anos. Sabem quase tudo da minha vida. Às vezes sabem mais do que eu, pois já têm a capacidade de calcular os meus movimentos seguintes. Lixam-me a cabeça - isto até merecia um verbo mais forte. Acordam-me do meu mundo imaginário. Ajudam-me a levantar e avisam-me quando vou cair. Nem sempre percebem o porquê do que faço, mas tentam respeitar sempre as minhas escolhas. São totalmente diferentes. Extremos uma da outra até. Eu estou lá para manter a ligação e encontrar um ponto de equilíbrio. O que importa é que na hora H, as diferenças ficam de lado, e tenho uma para me agarrar a mão e outra para me abraçar bem forte.
Felicidade? Eu sou feliz. Mesmo quando acordo de trombas, quando me irrito por tudo e por nada e quando a resposta está na ponta da língua, o meu coração sorri. Sou o exemplo perfeito daquelas gomas que são duras por fora e moles por dentro. Ambas doces. Consigo sempre encontrar algo de bom nas coisas. Consigo sempre eliminar as partes más da minha vida, nem que seja por breves momentos. No fundo sou uma azarada com sorte e não trocava as partes boas da minha vida por nenhuma das outras possibilidades. Além disso tenho sempre um sorriso guardado, para quem me faz feliz e para quem me quer ver chorar. Na maior parte das vezes, um sorriso é pior do que um estalo na cara ou do que o dedo do meio.
