Pieces * O 2º capítulo
Este é o segundo capítulo do meu livro.
Eu já vos falei um pouco sobre ele e já postei o primeiro capítulo.
Para quem não o leu basta carregar no link em baixo.
Depois de muitos pedidos, decidi postar mais uma parte.
Não sei onde é que isto vai parar, porque as ideias não param de bater à porta.
Espero que gostem.
*
Lá estava ela,
sentada no seu habitual banco do parque da universidade, lendo pela terceira
vez o livro de poemas, quando sente um leve toque no ombro. Ao seu lado
vislumbra a sombra de alguém, sombra que jamais esquecerá.
- Vou
trabalhar. – grita Gustavo enquanto sai porta fora, sem lhe dar tempo para
despedidas e acordando-a do seu mundo passado.
- Julieta, estamos
a ficar atrasadas. Saímos cada vez mais tarde de casa. – diz.
- Já estou
pronta. – diz Julieta, descendo as escadas.
- Vou buscar a
minha mala. Já lavaste os dentes? – pergunta.
- Sim mãe. –
responde com voz brincalhona.
Todos os dias
de manhã é ela que leva a filha à escola. Sente a solidão a assombrá-la cada
vez que a filha lhe diz adeus, antes de entrar pelo portão da escola. Aquele
sentimento percorre-lhe o corpo todo e, quando se senta no café do costume, a
sua mente não consegue deixar de sentir saudades daqueles momentos em que a
vida parecia sorrir-lhe e o mundo girar à sua volta. Pergunta-se todos os dias
se fez a escolha certa, se valeu a pena mentir e se conseguirá alguma vez
preencher o vazio do seu coração.
- Desculpe,
vai desejar alguma coisa? – pergunta a empregada do café.
- Sim, sim. Um
café e uma torrada, por favor.
- Com certeza.
Ainda não teve
tempo para pensar nos acontecimentos do dia anterior. Será que ele voltará a
tentar contactar-me? Será que ele sabe a verdade? Como irei reagir se o tiver
de reencontrar? São as perguntas que a aterrorizam.
- Aqui tem.
Deseja mais alguma coisa? – pergunta a empregada do café.
- Não, muito
obrigada. – responde – Espere. Posso fazer-lhe uma pergunta? – mal acaba de
fazer esta pergunta já está arrependida do que ainda não perguntou.
- Sim, claro.
- Acha
possível que a vida de alguém seja tudo menos sua? Que tudo o que vive e que viveu
seja de acordo com o que alguém pensou para si? – apercebe-se que o que
perguntou não faz sentido para mais ninguém.
- Não sei se
estou a perceber o que quer dizer. – diz a empregada meia perdida – Mas se me
permite, a vida é de quem a vive. As escolhas são suas, apesar de serem
influenciadas pelos que a rodeiam. Se alguém está a escolher por si, peço
desculpa, mas então esta vida não é sua. Era de si que estava a falar, certo?
Afinal
consegui ser mais explícita do que era suposto. Por que é que eu não sei estar
calada?!
- Pois.
Obrigada…
- De nada. Bom
apetite. – diz a empregada, ainda baralhada com o que tinha acabado de
acontecer. Afasta-se da mesa e para atender o casal que se tinha acabado de
sentar na mesa do lado oposto da sala.
Segue-a com o
olhar. Boa, pensa. Só me faltava mais um casal que exalta felicidade e amor por
todos os poros. Muito obrigada, a sério. Decide olhar pela janela enquanto toma
o seu pequeno-almoço, tentando abstrair-se um bocadinho de tudo. Adorava pintar.
Há anos que não dança. Há anos que não se sente completa. É como se uma parte
sua tivesse morrido, tivesse partido com ele. Na maior parte dos dias só deseja
voltar atrás no tempo e, mesmo que não desse para mudar o presente, queria
apenas aproveitar cada momento com ele. Lembra-se como era acordar de manhã.
Saltava da cama só por saber que ele estaria à sua espera, como sempre. Mas
não para sempre. Deseja tanto que isso volte a acontecer que, muitas vezes,
quando chega a casa, imagina como seria encontrá-lo sentado nas escadas, à sua
espera. Com o seu sorriso e os seus olhos brilhantes.
*****
- Querida, já
falaste com o teu pai sobre o jantar deste fim-de-semana? – pergunta Gustavo
enquanto se prepara para dormir.
- Achas?!
Sabes muito bem que só lá vou por que tu insistes. Já que fazes tanta questão,
resolve tu. – responde-lhe, observando-o da cama.
- Tem calma.
Simplesmente não entendo o porquê da tua zanga com o teu pai. Não lhe falas
desde o nascimento da Julieta. Só queria que resolvesses tudo com ele.
- Pois, mas não
há nada para resolver. Já falamos disso milhentas vezes. Esquece o assunto.
- Ok. Desculpa.
– responde com voz serena. – Eu sei que ultimamente tem sobrado tudo para ti
meu amor, mas preciso que entendas que a empresa do teu pai está com
dificuldades e que todos os clientes são importantes. Ele confia em mim e não
me posso dar ao luxo de o desiludir.
- Eu percebo,
mas de onde surgiu esta conversa? - pergunta, fugindo do assunto.
- Ando a
pensar nisto a algum tempo e sinto que não tenho sido justo contigo nem que te
tenho dado o valor que mereces. Peço desculpa.
- Desculpas
aceites. Agora vamos dormir.
Gustavo deita-se.
Percebe que mereceu aquela resposta. Mafalda volta-lhe as costas e faz que
dorme. No fundo ela não queria nem precisava daquelas desculpas e muito menos
queria aceitá-las. Queria simplesmente evitar discussões. Sente que é um desperdício
discutir sobre o facto de o marido não estar em casa e, especialmente, sobre o
tempo que ele não passa com a Julieta. Por muito que a filha não lhe diga, ela
sabe como o seu coraçãozinho se sente. Será que eu seria feliz se tivesse
escolhido o outro caminho? Será que a minha filha seria verdadeiramente feliz?
Durante os
últimos 7 anos da sua vida, a sua mente vive assombrada com mentiras, teorias e
imensas perguntas. Ela sabe que isso faz parte da tomada de decisões. Quando se
escolhe um caminho, existem sempre os outros que não foram escolhidos, os
caminhos alternativos. Neste caso, no seu caso, o caminho que escolheram por si não era aquele
que ela queria, era o alternativo, e a principal dúvida não é a se fez bem ou mal,
mas sim o porquê de não ter tido coragem para escolher, mesmo parecendo, o seu caminho,
o caminho mais difícil. No presente, ele parece ser tão lógico, tão fácil, tão natural. *
p.s. ainda não tenho nenhuma ideia para o título. Help!