Pieces * Moving on
Hoje começam as aulas e estou de volta ao trabalho. Achei que iria sentir-me um ser infeliz quando acordasse, mas depois de 72h enfiada em casa, em que 48h foram passadas no sofá, acho que já está na hora de fazer alguma coisa. Pelo menos sair de casa. Por isso vou tomar um banho, preparar-me, preparar o lanche e a farda e fazer-me à vida, que ela não espera por mim. Agora que não posso conduzir, não me resta mais nada a não ser os transportes públicos ou os meus ricos membros inferiores. Os meus melhores amigos vão ser o passe social e as minhas fantásticas sapatilhas. Isto é para eu aprender a não ultrapassar o limite, um limite que impus a mim mesma há não muito tempo. Fizeste asneira? Agora andas a pé que te lixas. É para ver se aprendes.
Estou há quase um ano na casa nova e ainda me sinto uma estranha. Parece tudo temporário. Acho que tem muito a ver com a forma como eu vejo agora a vida. Depois dos acontecimentos dos últimos tempos, a maior parte desilusões, é complicado olhar para as coisas e vê-las como algo que veio para ficar. Quando digo coisas, quero dizer pessoas. Ainda bem que há coisas que ainda consigo controlar e escolher. Falo dos amigos, já que a família é hereditária, levas com a que tens e é se queres. Das duas uma, ou aceitas ou lamentaste para o resto da vida. Eu resolvi aceitar. O resto do mundo, o que me rodeia, só o faz por escolha minha. Não quero gente que me esteja a fazer um favor ou com quem não me identifique. Para isso já tenho a minha família, na qual me sinto completamente deslocada.
Cansei de correr atrás, de achar que a culpa é minha e que fui eu quem errou. Eu não fiz mais do que ser fiel a mim mesma. Peço desculpa se magoei alguém pelo caminho, se fui injusta ou despropositada. Mas quando estás perdida é complicado olhar para as coisas com olhos de ver. Fico aqui à espera dos que também me desiludiram. Para um pedido de desculpa ou mais do que isso. Uma coisa vos garanto, não vou estar sentada no sofá à vossa espera.
