Pieces * Montanha-russa

   Fui educada a deixar tudo arrumado. O quarto está impecável. O armário organizado. As estantes limpas e preenchidas. As gavetas cheias. Falta arrumar o coração. Torna-se complicado quando trocas as prioridades, os limites e os teus objectivos. O resultado final é uma autêntica desgraça. Um amontoado de tretas, tralha e desculpas. 
   O bom disto tudo é que eu disse que estava às peças e que ia ser fácil brincar comigo enquanto assim estivesse. O mau é que não estou mais. Sei disso porque deixei de lutar contra mim mesma. Esta sou eu. Por isso eu vou chorar quando tiver de ser. Vou rir quando me apetecer. Vou olhar nos olhos e não virar a cara. Vou andar de cabeça levantada e não de nariz empinado. Vou manter-me fiel ao que acredito. Erro desde o momento em que o deixei de fazer. Em que tentei substituir o insubstituível. Em que achei que dava para ligar e desligar. E, principalmente, quando deixei que pensassem que eu funcionava assim. Que isto funcionava assim.
   A verdade é que cansa viver numa montanha-russa. Gasta-te as energias todas. Suga-te os risos e os sorrisos. Quando a volta acaba, tudo te parece chato e sem cor. Não existem motivos para pores um pé diante do outro. Não existe vontade para mais nada. O teu único desejo é que a próxima volta comece. E assim ficas, durante o tempo que for preciso, presa a um desejo. Presa a um estado de espírito momentâneo e destruidor. Já não tenho idade para isso. Quero ter motivos e vontades. Chegou a hora de elevar as minhas expectativas, para todos sem excepção. De estar ligada sempre. 

never treat someone like a priority when they treat you like an option


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