Pieces * meio meio

   A minha vida está repleta de motivos para sorrir. Cheia de gargalhadas. Mas como ser humano vulgar, pareço arranjar sempre motivos para deprimir. Para me afundar na tristeza imaginada. Para me sentir vazia de felicidade. Para achar que me falta sempre alguma coisa. Para me sentir incompleta e com sede por mais. É maldição. Porque para quem passa a vida a desvalorizar tudo, acaba por não ver valor no que tem. Fica com as prioridades trocadas. A mentalidade estragada. A realidade distorcida. Perde tempo. Ganha lágrimas e troféus. Mas os troféus só preenchem prateleiras.
   O copo está sempre meio vazio. Desperdiçamos a metade que fica. Desperdiçamos quem fica. Queremos sempre o que não podemos ter, o que já tivemos e o que foi embora. Queremos fotografias perfeitas, famílias perfeitas, momentos perfeitos. Queremos que as imagens que projectamos na nossa mente, sejam as imagens que guardamos do presente. Nunca assim será. Haverá sempre algo que não representará exactamente aquilo que desejámos, escrevemos ou desenhámos. A foto ficará desfocada. A família seremos só nós os quatro. E os momentos perfeitos serão aqueles que me fazem sorrir quando já forem passado.
   Fui educada a ver os dois lados das coisas. A acreditar. A dar o beneficio da dúvida. A amar. A lutar até ao fim. Por mim ou por ti. A dizer o que penso, sem medo e com orgulho. A olhar de frente, de cabeça levantada. A reconhecer os meus erros. A pedir desculpa. Por isso peço desculpa, por ser assim. Por ser fiel a mim e ao que me provaram ser verdade. Por dizer e escrever tudo o que me passa pela cabeça. Por me fechar no meu mundo e explodir sem avisar. Por acreditar no lado bom das pessoas e não saber desistir daqueles que há muito me fizeram desaparecer do seu mundo. Por ter de me afundar para que voltar à superfície seja tudo o que fazia falta. O meu copo está sempre meio cheio.



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