Pieces * Os meus pontos nos ís

   Hoje apetece-me escrever sobre um tema que anda na boca de toda a gente. Fala-se muito na praxe da UM. Que vai acabar, que o reitor proibiu, convocam-se reuniões, os meninos vão todos trajados, andam de luto, falam-se em manifestações. É a loucura! Pelo menos para mim.
   Facto: O reitor não proibiu as praxes, proibiu as praxes ABUSIVAS e contra a DIGNIDADE dos caloiros. Quem pensa o contrário, ou não sabe ler ou não leu. Aqui fica o link para a notícia no Expresso, caso não confiem no Expresso, existem noticias, que são da mesma maneira esclarecedoras, noutros jornais, como o JN ou no Público: http://aeiou.expresso.pt/universidade-do-minho-praxes-abusivas-proibidas-por-reitor-fotogaleria=f681367 
   Os ditos doutores, os que andam trajados e praticam a praxe, sim porque eu sou licenciada, logo sou doutora como eles, tenho é mais que fazer do que andar de traje a integrar alunos na vida académica ou a ensinar-lhes que existe uma hierarquia, usam e abusam. Sou anti-praxe, não anti a praxe que todos os doutores praticam, mas anti a praxe que me foi sujeita. Uma praxe que ultrapassava os meus limites. Humilhante, ridícula, estúpida. Nos dois dias que fiz parte do bando, não aprendi nada, não conheci ninguém. Não me senti integrada, muito pelo contrário, senti-me inferior, não por sê-lo, mas porque me queriam fazer acreditar que sim. Senti-me sozinha e humilhada.
   Para mim o problema não está na praxe, mas em quem a pratica e no poder que ela supostamente oferece. Acho bem ajudarem quem nada sabe sobre a universidade e sobre a academia, ajudarem os caloiros a conhecerem-se e criarem um grupo unido. Isso não se faz de olhos no chão, a rasto ou de joelhos. Não se faz aos berros. No meu caso, isso fez com que mais de metade do curso fosse anti-praxe. Conhecemo-nos, criamos amizades e também se criaram 3 grupos, não 2. Um grupo, os anti-praxe. Outro grupo, os da praxe que se relacionavam com os anti-praxe. E, por fim, os superiores, os que eram da praxe mas não se davam com outros que não fossem da laia deles. No segundo ano, já ninguém quer saber se és ou não, se foste ou não, se fizeste ou se te cortaste. No terceiro ano, uns têm uma agenda mais ocupada que os outros e andam mais vezes de preto.
   Com que então os doutores têm mais experiência? Em quê? Alguns deles só se for em com curar uma ressaca daquelas. Têm mais sabedoria? Alguns nem sabem como se passam às cadeiras. E dizem que não se pode brincar com coisas sérias. Mas vamos lá brincar com o dinheiro dos nossos pais, que se matam a trabalhar para nos pagar as propinas, enquanto nós andamos a falar de coisas sérias na praxe. Mais, ainda temos que agradecer porque nos preparam para os tempos se avizinham e nos põem a auto-estima no pico máximo!
   Resumindo: o que é que a praxe diz de ti - nada, o que é que te acontece se não vais à praxe - nada, o que te fazem se não fores à praxe - nada, o que é que aprendes se fores à praxe - nada. Queres aprender o que é a vida, estuda porque vais precisar de um emprego para teres dinheiro e conheceres os prazeres da vida. Queres saber o que é uma hierarquia, olha à tua volta. A sociedade é uma hierarquia, quer queiras quer não. Queres saber o que é engolir sapos, engolir e calar, arranja um emprego - muito mais eficaz e ainda ganhas algum! Quanto a olhar para o chão, só quando estiveres a fazer limpezas. Se quiseres aprender, aprende na escola da vida, não na da vida académica  nem com os outros! A vida é tua, académica ou não!

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