Pieces | Ser eu

Tenho estado desaparecida. Daqui e de mim. Ando por maus bocados a tentar encontrar-me. Frustrada por não saber por onde começar. Ser mãe mudou-me a perspectiva. Os pontos de vista. Sinto-me cheia de objetivos, mas engolida pela rotina de todos os dias. Pelo que devo ser. Pelo que tenho de ser. Sem saber quem sou. Ser mãe é o meu maior desafio, mas também é a minha maior conquista. Sem dúvida. O desafio de voltar a descobrir-me. Mas não tem sido fácil, admito. E, muitas vezes, penso que não sou tão forte como sempre pensei ser. Pergunto-me se todas as mães passam por isto. Se se perdem pelo caminho. E se alguma vez se encontram. Pergunto-me se serei só eu, que todos os dias se levanta para aprender a ser mãe e a ser eu. Se alguma vez ambas poderão coexistir, sem se anularem. Apesar disso sinto-me mais resiliente, mais decidida, mas em tantas outras coisas não me sinto eu. Ser mãe é isso? É anularmos uma parte de nós para sermos outra? Haverá alguma altura em que nos reencontramos? Em que voltarei a eu outra vez, com todas as minhas particularidades? Com tempo para amar-me. Para ser mulher. Amiga. Irmã. Catarina. Para dançar. Escrever. Permitir-me ser. Sentir. Ouvir música no volume máximo. Sem me cobrar. Sem me sentir mal. Porque agora sou mãe. Antes de tudo. Sempre. Terei de o ser? Fará sentido, eu ser algo antes de ser eu? É o que tenho sido. E há momentos, sinceramente, em só queria ser eu. Antes de tudo! Mas parece que desde que sou mãe, o dia ficou sem meia dúzia de horas. Em que tenho, constantemente, de escolher entre isto e aquilo, porque é impossível estar em dois sítios ao mesmo tempo. Fazer duas coisas ao mesmo tempo. Sentir duas coisas ao mesmo tempo. E é essa a minha maior frustração. Não me sentir perfeitamente capaz de ser tudo o que é suposto ser. Mas quem é que estipula isso? Serei eu a mim mesma? É a sociedade? São as próprias mulheres? As super-mulheres? Porque temos de aguentar sempre um bocadinho mais. Fazer mais. Ser melhor. Estar presentes. Sorridentes. Bonitas. Magras. Felizes. Acreditem, adoro ser mãe. Poder ser o colo, apoio e exemplo para um ser tão especial. Mas falto eu. Falta-me permitir-me ser. Essa tem sido a minha maior luta. Esse tem sido o meu maior desafio. Que consiga ser mãe e ser eu.


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