Pieces | Puzzle
Em dias como o de hoje, é preciso dizer o que se sente por escrito, claramente. Como nos dias de hoje, tudo parece ser temporário. Trabalhamos por tempo determinado. Por um ordenado determinado. Sem que se valorize a capacidade, a vontade e a qualidade. Nos dias de hoje é-se incapaz de planear um futuro, a curto ou a médio prazo. Porque não existem condições para isso. Porque é preciso um orçamento. Um orçamento que depende do trabalho com prazo de validade e do ordenado ingrato que caí no final do mês. E enquanto tudo o resto parece encaixar perfeitamente, falta uma peça que dá por terminado o puzzle. O puzzle que representa a vida que vivemos. Por terminar. E todos os dias, procuramos pela peça que falta. Que teima em faltar. E aí chega a revolta. O sentimento de pés e mãos atados. O fim de todas as soluções possíveis. Revolta de verdade! Querer viver uma vida, fazer planos, criar uma família... E não param de nascer entraves, onde nada é tão simples como parece, onde existe sempre uma nova desculpa. Em dias como este, cheios de coisas boas, adormecemos à noite, carregados com estas coisas para o dia de amanhã, com medo que o amanhã esgote o que ainda pode ter de bom para trazer. É uma luta interminável entre o presente e o futuro. Entre a vida que temos e a vida que planeamos ter. Que torna impossível de suspirar. De esquecer que o tempo não pára. E de que daqui a pouco, não passamos de dois velhinhos, de bengala, a caminho de um lugar só nosso, onde relembramos a vida que vivemos.