Pieces * Better times


Apesar das citações inspiradoras, não sabemos realmente aproveitar o tempo. Ficamos na cama até ao último segundo. Preferimos sair a correr e deixar a cama por fazer, em vez de apreciar o pequeno-almoço. Chegamos em cima da hora. Não saboreamos o café. Somos pelos banhos rápidos, não porque poupam água, mas porque estamos atrasados. Estamos sempre numa luta constante contra o relógio. Porque dormimos pouco. Porque nos deitamos tarde. Optamos pelas redes sociais e não pelo livro que continua na mesa de cabeceira. Somos pelas auto-estradas. Não gostamos do que demora tempo. Somos pelo multitasking. Não dançamos ao som da música que levamos aos ouvidos. Não deixamos que luz do sol aqueça a nossa pele. Que o cheiro da chuva quando molha a relva do jardim nos preencha. Não nos contentamos com um armário cheio e com 50 pares de sapatos. Adiamos tudo para amanhã. No dia 1 já contamos os dias até ao dia 30. Só queremos as sextas e os fins-de-semana. O verão. E os dias de folga. O que é bom passa a correr, porque não deixamos que ele passe devagar. A nossa ânsia pelo que sucede ao agora, pelo que vem a seguir, pelo mito de que o melhor está para chegar, não deixa que valorizemos tudo de melhor que o agora tem. Somos uns insatisfeitos condenados a pena perpétua.



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