Pieces * Um aplauso

Escrevo com as lágrimas nos olhos. Poderia tentar ser fria ao ponto de verbalizar o que estou a sentir neste momento de outra maneira, mas não consigo. Estou desolada. Estou triste. Estou revoltada. A forma como se lida com as pessoas hoje em dia é de uma falta de carácter, de profissionalismo e mesmo de humanidade. Há dois dias atrás recebi um telefonema para comparecer numa entrevista, em Lisboa, para um estágio numa revista de moda. Foi inevitável a alegria que senti, porque para além de ser na minha área, era na área que eu sempre quis trabalhar. Ia fazer das tripas coração para ir, mesmo sem garantias, porque eu sou uma pessoa que corre atrás do que quer. Que não se deixa ficar, porque é mais seguro. Eu sou uma pessoa que arrisco. O meu espanto hoje, quando ligo para a redacção a pedir mais informações sobre a localização e sobre o estágio e me dizem que fui automaticamente eliminada por não ter experiência. Não tenho experiência?! Jura! Não tenho experiência porque ninguém me deixa ganhar essa experiência! Porque até para um estágio é preciso experiência. Mas experiência em quê? Escrevo desde os meus 6 anos, sou uma apaixonada por moda desde os 7, quando era eu que já escolhia o que vestir, tenho um blog há quase 4 anos, fui colaboradora no jornal da universidade durante 3, tenho um mestrado em jornalismo e um 15 de nota final na dissertação e mesmo assim não sirvo. Só gostava que me explicassem como é que alguém responsável pelos recursos humanos de uma revista liga para uma candidata, a informa de uma entrevista, marca uma hora, e só dois dias depois é que se lembra de ler o cv. O que posso concluir é que a minha foto deve ter sido muito bem escolhida, para nem se ter dado ao trabalho de ler as restantes duas páginas do cv. Se calhar aproveitou a pausa para ir ao WC e deu uma vista de olhos ao resto. E esta é altura que seco as lágrimas e lhes bato palmas. Um "aplauso" por me entregarem uma bandeja cheia de oportunidades e esperança e logo a seguir me dizerem que era engano, afinal era para outra mesa. Afinal quem precisa de experiência deves ser tu!



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