Pieces * Monstros

   Sufoca-nos saber que tudo acabou sem nunca termos começado. O coração fica vazio. Vazio de tudo e cheio de nada. Quando perdemos alguma coisa, percebemos o quanto ela nos fazia falta. Quando voltamos as costas a algo, ficamos  a saber o que sempre esteve à nossa frente. Quando decidimos pôr um ponto final, não há muito a fazer se não seguir em frente. É preciso partir. É preciso continuar. O timing voltou a ser o errado. E é nos momentos de silêncio que percebemos isso. Talvez com o tempo, se torne mais fácil viver assim. Talvez se torne mais difícil. Mas não seria a primeira vez. A primeira vez que vives assombrada com os monstros do passado. Com o que poderia ter sido e com o que na realidade foi. Talvez desta vez seja de vez. Porque nada aguenta ser nada por tanto tempo. Chega a uma altura em que o nada não chega. Precisamos de um bocadinho. Só um bocadinho. Um bocadinho de luz. Um bocadinho de amor. Um bocadinho de saudade. Um bocadinho de verdade. Um meio sorriso. Uma espécie de cura. Um tipo de letra diferente. Uma nova oportunidade. Porque tu mereces uma oportunidade. Porque isso pode ser um bocadinho do tudo que vai crescer com o tempo. Porque pode parecer um bocadinho errado, mas ter a quantidade certa do certo. Porque se não tentares, vais viver assombrada com dois tipos de monstros, os do passado e os do futuro. Ambos numa luta constante. Uma luta onde és tu que perdes sempre. Por isso, fica com os bocadinhos. Só desta vez. Deixa-te ir. O que tiver de ser será. E se for, aproveita. E se não for, pelo menos tentaste e quem venceu foste tu.

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