Pieces * Painfull
A dor prolongada é muito pior do que a dor que se segue à desilusão, ao desespero, à surpresa ou ao medo. A dor que sentimos depois de algo acabar passa, e se não passa, pelo menos é conciliável. Podemos chorar no escuro, quando ninguém nos vê ou ouve. Podemos escrever desabafos num bloco de notas antigo. Podemos ligar a alguém que nos entenda e console. Podemos pedir um abraço e esperar que as lágrimas sequem e parem de cair. Isto é a dor mais fácil.
A dor difícil fica, e se não fica, deixa a marca das suas unhas nas nossas costas. Aparece quando não é bem-vinda. Persegue-nos quando sonhamos. Senta-se connosco. Deita-se connosco. Acorda ao nosso lado. Não sorri, não fala, não se mexe. Entre nós e ela sobram silêncios aterradores. Os silêncios que representam o antes, o depois e o agora. É como se conseguíssemos assistir à ante-estreia do filme em que somos protagonistas, filme esse que retrata a nossa vida passada e a nossa vida futura. Onde vemos tudo aquilo que conquistámos e tudo aquilo que perdemos. Onde nos mostra todas as vezes que fomos influenciados por ela e todas as vezes que seremos prejudicados por ela. Porque sofrer tem o poder de nos fazer sofrer ainda mais. Porque sofrer pela primeira vez, leva a que o simples medo de voltarmos a saber o que é esse sentimento, nos faça tremer, recuar e desistir.
